Em casa... (3)

Mais cedo eu lia uma notícia em um jornal local, onde dizia o seguinte: "Presidente voltou a causar aglomeração e afirmou que quem não for idoso ou tiver problemas de saúde 'tem que trabalhar'". Esse ser ignóbil acha realmente que as pessoas estão em casa deitadas numa rede bebendo água de coco?

Eu trabalho da hora em que eu acordo até a hora em que vou dormir para tentar pagar as despesas de uma escola que está fechada simplesmente porque é completamente insano pensar em juntar pessoas para uma aula de dança neste momento. O mesmo vale para tantos outros serviços que estão temporariamente suspensos por uma questão óbvia de saúde pública.

 Estou sentindo na pele o que é precisar retomar as atividades e não poder. Mas tenho informação suficiente para entender que neste momento, a levianidade de uns pode colocar todo um país em risco de colapso.



Sei que tem gente que não entende isso, provavelmente por ignorância. No entanto, ver pessoas minimamente informadas aderirem a essa campanha pela reabertura das atividades tem feito com que eu perca, a cada dia, um pouco mais da minha fé na humanidade.

Hoje me deu uma vontade enorme de escutar Radio Tarifa, um dos grupos que mais amo há mais de duas décadas! Os ouvi pela primeira vez na Espanha, e foi amor à primeira vista. Comprei tudo deles, virei fã de carteirinha... até que o grupo acabou e, depois, para minha tristeza, o cantor Benjamin Escoriza faleceu... Embora eles tenham músicas beeem alegres, esta especialmente melancólica foi a primeira que toquei aqui em casa esta tarde. 


Logo abaixo deixo uma mais animadinha que é para não deixarmos o baixo astral tomar conta de vez. Dias melhores virão. Assim espero. 


Em casa... (2)

Que mudanças internas vocês estão notando nos últimos dias? Fiquei pensando muito nisso desde a semana passada. Primeiramente, porque eu comecei a me perguntar que transformações essa crise mundial está provocando em mim. São várias as mudanças, desde a minha forma de valorizar o que realmente importa, passando por um amadurecimento financeiro e chegando na minha relação com parentes, pessoas que amo, pessoas com quem convivo, com a casa etc.


Imagino que este turbilhão esteja mexendo com praticamente todo mundo, sendo que cada pessoa está experimentando a situação de uma forma diferente. Fico sensibilizada com o cansaço de quem tem filhos e está precisando conciliar trabalho, tarefas de casa e essa demanda que os pequenos geram, especialmente os que estão em fase escolar. Tem também as pessoas que estão cortando um dobrado com seus companheiros/as, tem quem esteja se sentindo só, longe da família... com as pessoas que, assim como a gente, possuem um negócio próprio e estão diante de um cenário super incerto, sem saber até quando conseguirão se manter. Enfim, cada caso é um caso.

E o mais louco disso tudo é que boa parte dos desafios terão que ser enfrentados por cada um de nós, pois, por mais solidários que sejamos, há situações em que não conseguimos aliviar a pressão que outra pessoa está sentindo. Vamos fazendo como dá... semana passada confeccionei um kit de máscaras para doar a uma paciente oncológica que está iniciando seu tratamento agora. Tentei comprar de pequenas empresas, para dar um apoio, que neste momento é mais do que importante, fiz encomendas de congelados, orgânicos, mantive meus compromissos financeiros com pessoas que sei que precisam de seus pagamentos... tentei ajudar como deu. Enviei mensagem a pessoas que pareciam precisar de uma palavra de apoio, retomei contatos com amigas que eu não via há um bom tempo, para saber como elas estão... tenho procurado estar mais presente junto à minha família, meus gatinhos... Mas sei que é pouco. Neste momento, por incrível que pareça, tudo parece pouco.

É um momento único na nossa história recente e jamais passou pela minha cabeça a possibilidade de viver algo assim. Oscilo dias de otimismo, lucidez, paz interior e esperança com momentos de absoluta preocupação e inquietude. Quando isso acontece, me lembro de situações extremas que nossos antepassados e até mesmo contemporâneos viveram, como tempos de guerra, catástrofes naturais... e por incrível que pareça, elas encontraram forças para seguir em frente.

Então me sinto na obrigação de ficar forte, não somente por mim, mas pelas pessoas que amo e com quem desejo estar junto quando as coisas se acalmarem. Por incrível que pareça, a dança tem sido um ponto vital nessa história. Nos dias em que tudo parece mais complicado e a falta de um horizonte teima em me desanimar, eu piso no tabladinho que encomendei aqui pra casa, ou simplesmente me sento nele, abro as cortinas e me reconecto com essa força interior. Se eu coloco os sapatos de flamenco, pego minhas castanholas ou simplesmente deixo tocando uma música por aqui, a energia muda completamente!

Bailaora feliz com os pés arrebentados, como sempre hahaha!


Acredito que isso vai passar. Sairemos diferentes dessa tormenta? Algumas pessoas dizem que sim. Outras, duvidam. Quero crer que estamos aprendendo a ver a vida por um outro prisma, até então desconhecido. E que isso nos permitirá valorizar a vida de uma forma diferente daqui pra frente.

Aí vão duas músicas para acalmar o coração. A primeira, flamenco, eu coloquei em algumas aulas que gravei semana passada. É simplesmente maravilhosa!



E a outra é este mantra, que é um dos que eu mais escuto em casa, há pelo menos duas décadas... ele tem o poder de modificar a minha energia e a do local em que me encontrou quando eu o coloco para tocar. Para quem quiser conhecer um pouco do significado, sugiro a leitura deste post. Vale a pena!

Em casa... (1)

Sabe-se lá quantos dias de isolamento social serão necessários para que a nossa vida recobre um mínimo da antiga rotina. Como sinto falta dessa rotina... claro que passados mais de 15 dias em molho em casa, a gente acaba descobrindo uma nova forma de organizar o tempo.

Inicialmente, a preocupação maior era manter a casa limpa. Confesso que faltou pouco para meu TOC voltar. A obsessão com a limpeza, o som da máquina de lavar roupa quase que intermitente, os inúmeros pedidos no supermercado. Até que um dia me dei conta de que temos papel higiênico para muito tempo, muito tempo mesmo... se, por um lado, senti certo alívio por não ter que me preocupar com itens básicos de higiene por algumas boas semanas, por outro, veio aquela tristeza e a pergunta: o que significa isso tudo? Será que nossa vida virou de perna pro ar definitivamente? 

Vocês se deram conta de que todos esses fatos são super recentes, mas a sensação que temos é de que estamos nesse vendaval há uma eternidade? 

Vi esta bandeirinha à venda neste site e amei. Acho que vou encomendar uma!

Não sei se são as preocupações diárias com saúde, com o bem-estar das pessoas que amamos, com as incertezas financeiras, com a tragédia que aguarda aqueles em situação menos favorecida, a nossa política bizarra... mas o fato é que os dias têm parecidos longos, as noites curtas e a sensação de cansaço se tornou uma constante. 

Semana passada me dei conta de que eu voltei da Espanha há tão pouco tempo, mas quase não me lembro dessa viagem, que foi linda, por sinal. Jamais me permiti desfrutar daquele pós-viagem, não tive coragem de ver as fotos, de relembrar os momentos... eu cheguei no dia 8 de março e me lembro que ao entrar no apartamento e ligar o computador para ver as notícias, tive um choque com o aumento súbito do número de casos de Covid-19 em um único dia. Eu pensava: mas eu estava ali há poucas horas e as coisas pareciam dentro da normalidade. Nada indicava que a semana que se iniciava seria tão triste, não somente para a Espanha, mas para muitos outros países. 

O fato é que a gente leva um tempo até perceber a gravidade do problema. Somente quando ele se aproxima muito, muito mesmo, a ficha parece cair. Foi assim quando começou essa crise, na China... muita gente duvidava que ela chegaria até o Brasil. E vejam só, o mundo agora está "unido" por um motivo bem triste: o combate ao novo coronavírus. 

Resolvi retomar os posts aqui no blog, após muitas idas e vindas nos últimos anos. A falta de tempo foi, sem dúvida, o principal motivo pelo qual eu deixei de escrever aqui. Nunca me preocupei se havia alguém lendo o que eu publicava. Este blog, como o próprio nome indica, nada mais é do que uma espécie de diário onde eu registro referências musicais, dicas de artistas e bandas para lembrar depois. Notei que já faz muito tempo desde que eu comecei a publicar aqui e, consequentemente, muitos links já estão quebrados. Uma pena, pois eu salvei aqui músicas que realmente marcaram algum momento da minha vida e adoraria ter esta espécie de diário sempre em mãos para que eu pudesse acessar e escutar. Mas não faz mal. Em tempos de Spotify e Deezer, a gente consegue escutar praticamente tudo com uma busca simples. 

Em todo caso, optei por recomeçar a postar aqui pelo simples motivo de que eu preciso de algumas rotinas que sejam diferentes de limpeza e trabalho (aliás, não está sendo fácil encontrar uma nova rotina para a OF agora com plataforma de ensino a distância, mas pouco a pouco a gente pega o ritmo... na esperança de que voltemos às aulas presenciais em breve!). Se pudermos passar por tudo isso com saúde, paciência, lucidez, dança e boa música, já teremos boas histórias para contar. Minha terapeuta provavelmente sentiria orgulho de mim lendo esta última frase... hahaha

Para encerrar este textão, aí vai uma música que ontem eu escutei repetidas vezes enquanto costurava máscaras de proteção. Sim, isso também foi algo que recentemente entrou na minha rotina... espero que por pouco tempo e que em breve eu volte a fazer bolsas, necessaires e outras coisinhas mais amenas!


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